Sunday, December 04, 2005

Clarice Lispector é uma escritora fantástica






Quem não conhece a obra de Clarice Lispector deveria realmente se dedicar a esta busca.
Indico a leitura de Laços de família que tem um conjunto de contos já dealineando a enorme capacidade de Clarice em criar todo um universo interior de forma simples e profunda.
Publico aqui o conto que eu acho ideal para se ter uma pequena idéia de sua arte literária.
Não deixe de ler, é realmente muito bonito.



Felicidade Clandestina



Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


Clarice Lispector. In: "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998

Saturday, December 03, 2005

Eis que chega o verão...e ele é magnifico em cores e luzes.

Realmente o verão é magnífico pois o sol fica mais tempo a pino e as imagens têm cores lindas, vou na praia amanhã!!

Monday, November 21, 2005

Talvez seja, esta, uma das mais belas características do ser humano. A Capacidade de REFLETIR e ESCOLHER sua liberdade.

Tenho refletido muito sobre a questão da liberdade, existem muitas visões sobre este tema. Para alguns é poder fazer o que quiser, para outros é poder não fazer , ouvi sobre não se prender a nenhuma relação e ouvi sobre ter uma relação e não assumir que se tem ( pra mim é covardia e está muito em voga depois dos hippies) já vi alardearem que é não dependência emocional, tem também aqueles que filosofam sobre não devolver os condicionamentos adquiridos na sociedade(psicologia?)"Sartre", lembrei agora do jargão "dinheiro é liberdade e poder é dinheiro e liberdade", ah tem o pessoal que acredita em não depender do corpo para viver, transcendência e controle da própria matéria , tem também a posição religiosa de dominar a própria reencarnação e alcançar algum objetivo em outra vida, já ouvi falar em crer cegamente(fé?) em Deus ou em Jesus e a salvação, tem também a postura da conscientização de si, já me disseram que é o domínio dos desejos, eu mesma já senti assim..., agora pouco li que liberdade é socialismo, comunismo, tem aqueles que dizem que liberdade não existe de fato, é utopica, continuo pensando sobre o assunto, e posso dizer que ele é recorrente na minha cabeça, não vou fechar esta questão com um belo parágrafo literário, mas estou começando a achar que para mim liberdade roda em torno de saber sobre...como se de fato se traduzisse em refletir sobre as coisas, não especificamente sobre a liberdade, mas sobre todas as coisas que percebo e não percebo, procurar achar dentro delas um reflexo não fantasioso das minhas escolhas.

Friday, November 18, 2005

E de HQ eu me divirto. Afinal , somos todos superheróis né não?


















Adoro revistinhas em quadrinho e coleciono X-men, extra e regular, Wolvie, Novos titãs, e algumas eventuais series especiais, falando nisso achei umas imagens muito divertidas com personagens de diversos universos de HQ mostrando eles em seus trabalhos diários, aqui está tempestade como a moça do tempo, e o carro do superman pizzas, o Aranha, o Hulk e o Batman pobre virão depois.



E vem chegando o verão.

Verão, e esta foto é de Buscavida, onde eu moro, não moro na praia, moro pra dentro da praia por motivos óbvios, sal demais vento demais segurança de menos mas de qualquer forma adoro morar perto do mar, assim, esta é a praia do meu condomínio.
Este verão vai ser diferente pois estou disposta a aproveitá-lo de um jeito diferente.

Tem dias que a gente se sente...


Este é o tal de teste de imagnes do blog, mas tem dias que a gente se sente realmente fora do contexto, neste caso estou aqui querendo dar meus pulos na net e fazendo uma bobagem atrás da outra, finalmente pus uma foto aqui, em breve, fotos mais atualizadas, esta é antiguinha.
Acho que este formato tá bem legal, porém vou ter que fazer modificações com o tempo já que vou colocar links e tal, de qualquer forma espero comentários de vocês e vamos adiante.
Estudo na faculdade unime, faço letras e realmente estou curtindo meu curso, mas tenho lá as dúvidas que todo mundo tem na faculdade, pra que lado eu vou? Não sei, estou ainda meio á deriva mas sei que será em literatura já que não gosto nem a pau de matérias técnicas, só faço passar por elas, gosto mesmo é de textos longos e de refletir sobre eles, ao longo do tempo falarei sobre a faculdade e etc, no momento é só prévia e testes, ah adoro cinema e vou usar muito meu blog pra falar de filmes que vi recentemente e no passado.Xande, bjks

Thursday, November 17, 2005

NadadeOrdinário , Oxi, Vixe, Mommy.

Por enquanto estou louca com as coisas da faculdade de fim de semestre, assim, vamos aos testes do blog e deixaremos para a parte bacana rolar nas férias.
No mais tenho a dizer que o copo é meio cheio e meio vazio, quem disse que não poderia ser os dois?